Auschwitz, Prisioneiro (sobrevivente) 186650

Francisco Balkanyi é o personagem central deste drama vivido durante a Segunda Grande Guerra. Nascido no Uruguai, detalhe que me chamou a atenção, Balkanyi resolve contar a sua história para que não se perca. Levá-la para o túmulo? Ele mesmo diz a obviedade da vida: não viverá para sempre. Para que não a carregue somente com ele, deixa-nos assim, esse legado.

Por que Francisco Balkanyi, nascido em terras sul-americanas, foi parar em Auschwitz? Bem, a partir desta indagação, comecei a ler sem esperar muito do livro. Sem esperar muita novidade, de fato, em relação às minhas outras leituras sobre sobreviventes da Segunda Guerra Mundial. Mas o livro me envolveu. É surpreendente como a vida pode nos levar por caminhos tão diversos, e chegar a parecer mesmo, mirabolantes. Toda a narrativa nos prende, a ponto de nos fazer acreditar que já estava escrita nas linhas do destino. É a história da família de Francisco que nos deixa surpresos ao vermos como os acontecimentos podem se suceder da maneira como foi. Realmente, chego a crer que são vidas entrelaçadas, não pelo acaso.

O livro é bem escrito, de fácil leitura, e os capítulos discorrem por nossas vistas, enquanto nos envolvemos com a história. No auge dos acontecimentos, você não consegue parar de ler, pois a vontade, a cada capítulo que se encerra, é de querer saber as consequências de cada ato. O livro não esfria. Ele é bom e faz com que nos interessemos cada vez mais.

Francisco Balkanyi sobreviveu, como diz o título, ao mais horrendo campo de extermínio de judeus. É uma história que traz comoção, mas nos  reserva boas surpresas, apesar da tragédia do Holocausto. São essas as minhas impressões a respeito dele.

PALUMBO, Maura. Auschwitz: prisioneiro (sobrevivente) 186650: romance baseado na história de Francisco Balkanyi. São Paulo (SP): Duna Dueto, 2017.

Eu sobrevivi ao Holocausto

20160110_074045

“A vocês eu devo a vida e todo amor que recebi, amor que posso sentir até hoje.” (Dedicatória de Nanette Blitz Konig a seus pais).

Há tudo para dizer deste livro. Por isso temo pecar em não conseguir abrangê-lo. O acontecimento, incompreensível. A mensagem de Nanette, mais do que um dever de todas as gerações posteriores em tomar como lição, que o homem deva ser tolerante e nada mais que HUMANO. Com toda a razão que possa usar em enxergar a liberdade do outro. Sem nos perder em concepções e ideologias que venham a nos tornar desumanos em nome disso ou daquilo.

O Holocausto deve ser lembrado. Ele vai se distanciando das gerações, mas é preciso recontá-lo. Para não perder a ciência de que houve um momento longo de barbárie na história da humanidade. Assim como o período da escravidão no Brasil, e assim como acontece com milhares de pessoas submetidas a trabalho escravo. Impossibilitadas de pedirem socorro, por estarem ignoradas pelo mundo. São situações em que se passou da perda involuntária da vida livre para uma vida subjugada, de tristeza, infelicidade, sofrimento.

O direito de ser livre. Para viver, para escolher, para transitar, para se estabelecer, e até para morrer, respeitando o direito de igual valor do outro. Não há bem maior que o homem deva reconhecer no próximo.

Não havia como comentar este livro. Sua essência nos deixa assim: perplexos, indignados, sentindo um dever que nos é devido mas que não sabemos o quê. Devemos ser ao menos uma voz que não se cala. Que deve se juntar à de Nanette, à de seu livro, e que não se deva distorcer.

A história concedamos a ele, o livro, para nos contar. Os momentos por que passou Nanette, o que estava vivendo em cada instante, sentindo, pensando… Ela consegue nos passar e nos faz acompanhar sua angústia e dos seus. Como a vida de milhões de pessoas pode ter sido atropelada cruelmente como foi?

Reescrevo aqui uma passagem citada por ela, na introdução de seu livro, para finalizar meu humilde comentário: “Como disse George Santayana, filósofo e poeta espanhol: “Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.”” KONIG (2015: 9). Eu sobrevivi ao Holocausto é meu livro da mochila.

(KONIG, Nanette Blitz. Eu sobrevivi ao Holocausto. São Paulo: Universo dos Livros, 2015. 192 p.)

20160116_121936

“Por meio de um depoimento ao mesmo tempo sensível e brutal, ela questiona a capacidade de compaixão do ser humano, alertando o mundo sobre a necessidade urgente da tolerância entre os homens.” KONIG (2015: quarta capa)

 

O diário de Mary Berg

 

20170727_114717-8

Este diário é uma revelação do horror nazista. Cada detalhe narrado, cada dia vivido. Aqueles que viveram os episódios tristes que Mary testemunhou, tem o registro de seus nomes, e mesmo aqueles que Mary não conhecia pelo nome, mas que ela testemunhou seus sofrimentos, são revelações ao mundo do que representaram os locais de confinamento denominados guetos.

O diário nos traz nomes que na atualidade podemos conhecer por obras ou outras mídias biográficas. É o caso de Janusc Korczac, que dirigia o Lar das Crianças, que hoje é conhecido pelo legado deixado em obras pedagógicas. É o caso do pianista Wladyslaw Szpilman, que teve sua história contada no filme O Pianista, lançado em 2002.

Mary Berg nos leva com ela, a viver cada difícil dia daquele lugar. A ver o sofrimento e a morte tão banalizados. Um livro que não nos deve faltar na lista. Um livro que precisa ser lido por todas as gerações futuras.

BERG, Mary. O diário de Mary Berg: memórias do Gueto de Varsóvia; editado por S. L. Shneiderman; nova edição preparada por Susan Lee Pentlin; tradução de Geraldo Galvão Ferraz. – Barueri, SP: Manole, 2010.